terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Saída do Paraíso

«The Garden of Eden» de Thomas Cole(detalhe)
No princípio do mundo, nada crescia. Mas existiam pessoas, montanhas, árvores, animais, rios, mares, tudo. Frutos e sementes de todas as espécies. Nada nascia nem desaparecia. Não caía uma folha, não se abria um fruto, não nascia uma criança.
Nem as pessoas, vendo-se umas às outras, procuravam saber para o que existiam. Não pensavam e se elas não pensavam também não falavam.
Diz-se que o luchan apareceu pronto com todas as coisas que o mundo ainda hoje tem. O princípio das pessoas, dos animais, das plantas e das coisas apareceram prontas. No luchan também foi assim, apareceu cheiinho daquilo que precisa de existir: sunguês, sanguês, ôbô, lagaia, galinha, cão, porco, rio, fruteira, coco, ar e luz.
Pois, no princípio de tudo, o que é que acontecia no luchan? Nada, absolutamente nada. Tudo existia, mesmo as pessoas. As pessoas eram já crescidas e nunca tinham sido crianças. Nem iam envelhecer, não havia sana nem sun. Não se sabia o que era nascer. Pessoas, animais, plantas nada propriamente tinha nascido. Existiam.
As pessoas não sabiam que relação tinham umas com as outras nem quem eram, nem para o que servia tudo o que as rodeava. Nem se era bom ou não o estar assim num tempo parado. Não estavam a dormir, mas também não estavam acordadas. Porque o não sabiam.
Mas a Lua passava e continuava a passar lá longe, por cima do luchan. Passou, passou, até que as pessoas sentiram e perceberam que a lua dizia coisas e fazia sinais que nunca eram os mesmos.
- O que é aquilo?
Foi a primeira frase que disseram, a primeira pergunta que puderam fazer. Todas as pessoas a fizeram. Começaram, então, a ser capazes de perguntar e de responder.
Perceberam que a Lua, de cada vez que passava, era diferente. Umas vezes, mostrava caras; outra, rios, montanhas, flores, mãos, frutos, gestos. E começaram a copiar e a imaginar e a aproveitar tudo o que as rodeava e comeram os frutos e serviam-nos umas às outras. Com isso, nasceu o tempo e a vida e entenderam o movimento.
Saíam do paraíso.
As pessoas já envelheciam e, por outro lado, nasciam crianças. As sanguês e os sunguês notaram as suas diferenças e souberam que isso era bom.
Nascia o amor.
E riam!!!!!


Fernando Sylvan

domingo, 20 de outubro de 2013

A princesa de We-Hali

Jovens timorenses em trajes tradicionais.
Em tempos passados, já muito distantes, partiram para We-Hali alguns príncipes de Samoro, a fim de aí contratarem a princesa que deveria casar com o príncipe desta terra.
Quando chegaram a We-Hali, já ali encontraram gente de vários reinos, a solicitar também a real donzela.
Os de We-Hali, manhosos, enfeitaram muito bem mulheres de nobre estirpe e apresentaram-nas aos emissários, para que entre todas escolhessem aquela que mais prendesse os seus olhares.
Os de Samoro, antes que penetrassem no palácio real, em conversa amiga com as serviçais do régulo, tentaram saber qual, de entre elas, será a verdadeira princesa.
Estas responderam que nenhuma daquelas era a verdadeira princesa, mas sim uma outra que estava na cozinha, vestida de criada.
Assim, quando os de Samoro entraram no palácio para escolher sua rainha, não se decidiram por nenhuma das que os de We-Hali apresentaram aos seu olhares, mas indicaram aquela criada que estava a trabalhar na cozinha.