Era uma vez um gigante muito grande, chamado Beileira. Um dia, ao passar por um campo, viu uma linda rapariga e logo se apaixonou por ela. Pediu-a em casamento e, como ele tinha bom coração, a rapariga aceitou.
Começaram a procurar casa para morar, mas não encontraram
uma casa onde coubesse a cama do gigante Beileira.
- Não faz mal – disse a rapariga. – Podemos viver na
floresta e dormir no chão. Juntamos umas folhas secas e fazemos aí a nossa cama.
Beileira estava de acordo. Ele preferia mil vezes dormir ao
ar livre a ficar enfiado entre quatro paredes. Podia ouvir os animais quando
eles iam para as tocas ou para a caça, o Sol acordá-lo-ia com suaves festas no
rosto e os passarinhos cantar-lhes-iam lindas canções para que começassem o dia
bem dispostos.
- Ai! – gritou ela. – Que hei-de fazer? Está uma jibóia gigante
junto à cabeça do meu amado. Beileira, acorda!
Beileira tinha, porém, um sono muito pesado e não a ouviu. A
rapariga pegou na espada do gigante e, gritando «Beileira, Beileira», correu
para a jibóia e desferiu-lhe tantos golpes que a matou. A rapariga voltou-se
então para Beileira e disse-lhe:
- Vê, matei a jibóia!
Beileira não lhe respondeu. A jibóia já o havia mordido e
Beileira estava morto.
O gigante era tão grande que tiveram de o cortar em sete
pedaços para o conseguirem enterrar. A rapariga ficou porém inconsolável.
Assim se explica porque numa noite de lua cheia, de mil em
mil anos, aparece nas florestas de Timor uma mulher vestida de branco, a gritar
«Beileira, Beileira», acompanhada por milhares de pássaros que chilreiam sem
cessar.
Essa mulher, que segura nas mãos uma espada como se fosse
uma flor, faz com a espada sete círculos no solo; quando acaba o último
círculo, a lua desce à terra. Nesse instante, faz-se um grande silêncio. Os
pássaros voam para os seus ninhos. E com um grande estrondo, os vários pedaços
de Beileira saem do solo e juntam-se, formando de novo o corpo do gigante.
In «Os mais belos contos tradicionais – Contos da Lusofonia»,
recolhidos por M. Margarida Pereira-Muller. Civilização, 1998.
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